segunda-feira, 27 de julho de 2009

Offshore: Brasil entra na competição

1 Definição de Outsourcing

Power (2006), define outsourcing como o ato de transferir o trabalho de uma entidade para uma outra externa, como o objetivo de produzir a um custo menor. O Outsourcing chama para si a responsabilidade os fatores de produção, os recursos usados para a produção e as decisões de negócio. A empresa que contrata o outsourcing é chamada de cliente, quem fornece o outsourcing é chamado de fornecedor e o escopo do trabalho é baseado em um projeto.


Ilustração 1 - Componentes do outsource. POWER(2006)

1.1.1 Cliente
Para Power (2006) cliente é a organização ou empresa que tem como objetivo fazer outsourcing, tendo como objetivo principal transformar o outsourcing em ferramenta estratégica. O cliente pode ser medido em escopo e tamanho, ou seja, o cliente pode ser toda a organização ou apenas uma unidade organizacional. Se no setor inteiro de TI for feito outsource pode-se chamar de toda a organização, porém se o outsource que está sendo feito é a folha de pagamento do setor de recursos humanos pode-se classificar de unidade organizacional.

1.1.2 Fornecedor
Para Power (2006) o fornecedor é a entidade que fornece e conduz o projeto de outsource. O fornecedor pode ser uma entidade externa, geralmente é o que acontece, ou uma filial da organização em outro país. A empresa Dell é um exemplo, ela tem a sua filial no Brasil onde a mão-de-obra é mais barata e a qualificação é comparada com os funcionários da matriz.

1.1.3 Projeto
Projetos de outsourcing têm como objetivo trazer para o cliente um trabalho executado no tempo previsto com qualidade e a um custo baixo.
Para encerrar este capítulo, será citada alguma razão para que seja feito outsource.


1.2 Razões para fazer Outsourcing

Segundo Logica (2009) existem três motivos para que as empresas façam outsourcing:
• Gestão de custos: O outsourcing proporciona uma oportunidade para reduzir custos e melhorar suas previsões.

• Gestão de riscos: todas as despesas de capital, formação e recrutamento do pessoal ficam sobre a responsabilidade e risco do fornecedor de outsourcing, cabendo a este medir as aptidões e conhecimentos relevantes dos candidatos e funcionários.

• Aceleração do negócio: fornecimento a novos conjuntos de aptidões e melhoria na qualidade de serviços são algumas das transformações trazidas pelo outsourcing, permitindo que o cliente faça uma entrada rápida ao mercado. Tirando estes focos da empresa, o outsourcing permite que esta se concentre no seu negócio principal.
O próximo capítulo irá entrar no assunto principal do trabalho, descrever os tipos de outsourcing principalmente o modelo offshore. Além de uma breve descrição sobre offshore será colocado em pauta a atuação do Brasil neste tipo de outsourcing.


2 Tipos de Outsourcing

Existe uma variedade de tipos de outsourcing, cada uma com as suas características que remetem a pontos fortes e fracos no que tange a gestão. Para Power (2006), outsourcing pode ser segmentado por localidades, ou seja, onde o trabalho é executado: on-site ou off-site.
O modelo on-site define o trabalho da equipe do fornecedor sendo feito dentro das instalações dos clientes.
O modelo Off-site define o trabalho da equipe do fornecedor sendo feito remotamente. Este modelo pode ser classificado como onshore, nearshore e offshore.
Define onshore quando a localização do fornecedor é a mesma do cliente, mão-de-obra barata e especializada. O grande diferencial é que o choque cultural não é tão alto e a língua falada é a mesma.
Nearshore define a migração de serviços para um fornecedor de países vizinhos. Pode-se citar a migração de serviços de call center das empresas dos EUA para as canadenses. A vantagem deste tipo de off-site está na pequena diferença cultural, viagens e comunicações mais barata, além da pequena diferença no fuso horário.
Segundo Silvério (2009), offshore outsourcing é o termo em inglês que define a migração de serviços para um fornecedor fora do país. Ela ainda cita que a idéia é buscar as melhores condições de prestações de serviços independentes do fornecedor e pais.
Complementando ainda: “Offshore outsourcing, é o processo onde empresas contratam mão-de-obra especializada de outros países para o desenvolvimento de software com objetivo de economizar recursos". (Silvério apud Navarro & Alessi, 2007).
Muitas empresas de países desenvolvidos estão migrando serviços de TI (Tecnologia da Informação), suporte técnico e infra-estrutura para países emergentes onde a mão-de-obra é barata. “Para países emergentes como o Brasil, a terceirização de seus serviços por offshore representa uma vantagem para a economia nacional, pois podem exportar serviços de seus profissionais, garantindo que a mão-de-obra especializada não saia de seu país de origem” (NAVARRO & ALESSI, 2007).
Além da redução do custo da mão-de-obra existem outras vantagens neste modelo de negócio: eliminação de investimento inicial em equipamentos, profissionais qualificados, possibilidades das empresas fornecedoras manterem e gerirem recursos; e aplicações possibilitam o impulsionamento deste novo modelo.
Segundo Silvério (2009), “Ao contratar uma fornecedora de serviços de terceirização de infra-estrutura de TI, os clientes levam em consideração principalmente à qualidade dos serviços, a capacidade de cumprir os acordos de nível de serviço (SLAs), a confiabilidade e os casos de sucesso no mercado”.
Ela ainda complementa:
“Esse cenário gera receitas substanciais às empresas de outsourcing e, ao mesmo tempo, contribui para a melhoria dos serviços, uma vez que os clientes têm expectativas mais elevadas e exigem resultados de seus projetos, em relação à eficiência e redução de custos”.
O outsourcing offshore pode ser encontrados em empresas de vários ramos de atividades onde o serviço principal que é remetido ao outsourcing é o de TI, ou até mesmo as multinacionais que fazem outsourcing da sua TI interna para as suas filiais instaladas nos países em desenvolvimento.
Os países mais visados para o outsourcing offshore são Índia e a China. Onde o quesito principal que leva a eles estarem nesta posição é a boa qualidade de mão-de-obra e custo baixo da mesma. Abaixo, gráfico que aponta a presença de países e regiões do mundo que fazem offshore.


Ilustração 2 - Percentual de presença de países que realizam offshore (IDC,2006)

Silvério (2009) cita que existem alguns fatores que colocam estes dois países à frente da vantagem do offshore:
• Anos de atuação no outsourcing offshore, levando a ter uma boa reputação no que tange excelência;
• Mão-de-obra barata e altamente qualificada decorrente de uma boa formação educacional;
• A maioria da população fala o inglês.


Ilustração 3 - Razões para o uso de outsourcing offshore. (IDC, 2006)

Ahorlu (2006) cita que os principais desafios para os fornecedores para a construção de um modelo global de entrega de serviço são comunicação e integração. A comunicação entre os diferentes fusos horários, línguas e culturas é complicada e tem uma grande quantidade de esforço e projetos qualificados com objetivo de amenizar estas barreiras. Isto significa que os prestadores de serviços têm que aproveitar o esforço para criar procedimentos, bem como mecanismos de controle para garantir a qualidade e eficiência em processos de trabalho. Os desafios de como gerenciar os processos também estão entre as razões pelas quais os prestadores de serviços iniciam lentamente e, por vezes, utilizam-se parceiros para ganhar experiência para que eles possam evitar um start-up com muitos recursos contratados localmente. Contudo, é visível o elevado crescimento (65% ao ano em média), não apenas como um sinal de alta demanda, mas também como um sinal da crescente confiança e maturidade dos prestadores de serviços no uso e domínio do offshore.
No capítulo seguinte será abordado offshore de TI colocando o Brasil como competidor.

3 Offshore de TI no Brasil

Segundo a A. T. Kearney, consultoria internacional que realizou estudo sobre offshore no Brasil, aponta que mesmo com a crise o mercado mundial de offshore apresenta um crescimento de mais de 20% ao ano. Baseado neste número, o Brasil estará apto a abocanhar parte dos US$ 31 bilhões que será movimentada até 2010. A pesquisa mostra que o Brasil passou da décima posição para a quinta posição no ranking de países de maior atratividade de Offshore no Index ATKearney2007.


Ilustração 4 - Ranking de Países de maior Atratividade de Offshore. STEFANINI (2009)

O Brasil não é visto com um competidor frente à Índia, pois eles têm a maior oferta de offshore do mundo, mas sim com uma alternativa a China e outros países do continente americano. Stefanini (2006), cita que os fatores que faz com que o Brasil seja uma alternativa são:
• Melhores condições de trabalho de forma coletiva;
• Mesmo fuso horário da Índia;
• Comunicação de forma clara;
• Solução eficaz dos problemas em um tempo melhor;
• Mais competitivo no processo contínuo.
Segundo Peres (2008) o Brasil possui algumas vantagens que apontam como diferencial competitivo:
• Aspectos Geográficos: fuso horário, tempo de deslocamento e ausência de desastres naturais;
• Aspectos Políticos e Econômicos: regime político democrático e estável, estabilidade econômica, ausência de guerra e boa infra-estrutura;
• Aspectos culturais: ausência de conflitos, grandes metrópoles e organizações similares ao dos Estados Unidos;
• RH: Profissionais qualificados, empenhados, inovadores, menor rotatividade e flexibilidade;
• Empresas: Grande número de fornecedores locais e internacionais.

Entre Outubro de 2009 a Janeiro de 2009 a IDC realizou uma pesquisa tomando como base serviços oferecidos para clientes fora do país representando nas receitas das empresas localizadas no Brasil. Peres (2009) conta que a metodologia empregava consistia em entrevistas quantitativas, entrevistas qualitativas e dados secundários da própria IDC sendo feitas para Fornecedores de TI e BPO (Business Process Outsource), Captive Center (a própria empresa é a fornecedora de offshore para a matriz ou outras filiais) e mais de 60 empresas entrevistadas.
Os serviços de TI considerados foram:
• Desenvolvimento de Sistemas (projetos, testes e manutenção);
• Bodyshopping;
• Gerenciamento de infra-estrutura.

As operações levadas em consideração foram:
• Captive Center;
• Empresas Multinacionais;
• Empresas nacionais.

Segundo o IDC (2008) as operações de multinacionais offshore contam com 48% da demanda global de serviços de ITO – BPO, sendo que no mercado global o offshore gerou US$2,260 Milhões. O Brasil conta com 16% desta demanda como é mostrado no gráfico abaixo:


Ilustração 5 - Dimensionamento do mercado brasileiro de serviços de offshore. IDC (2008)

Com a liderança da Índia no mercado de offshore o Brasil competirá com outros emergentes (China, México, Argentina e Chile), ou seja, competirá com os cerca de US$ 31 bilhões que serão movimentados até 2010. Abaixo, gráfico que mostra o mercado de serviços offshore frente às regiões demandantes, exibindo a fatia hoje conquistada pelos países da América Latina.


Ilustração 6 - O mercado de serviços offshore por região demandante. IDC (2008)

O Brasil está apto a oferecer soluções inovadoras, pois possui um diferencial competitivo que o coloca a frente. Além do mais, possui recursos especializados, infra-estrutura e um sofisticado mercado interno.
Enquanto mantém sua estratégia diferenciada, o Brasil deve monitorar e melhorar sua posição competitiva em termo de custos. Além de desenvolver as suas companhias a fim de fortalecer a oferta de serviços.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mesmo que o Brasil tenha os seus diferenciais competitivos a frente de outros países alguns problemas surgem como inibidores para o crescimento neste mercado. Com a crise algumas ameaças começam a surgir. As empresas norte-americanas, maiores clientes de offshore, estão cortando projetos e mantendo vivo apenas o que é essencial. O principal motivo para estes cortes é o protecionismo, onde o Governo ameaça cortar incentivos daquelas empresas que contratam serviços de outros países.
Não somente isso, mas o nosso país já apresenta sinais de fraqueza por conseqüência da crise mundial. Não bastando, muitos países estão transferindo suas operações para a Ásia, a fim de manter os custos baixos e enfrentar a crise.
O Brasil tem que manter os seus diferenciais competitivos e melhorar a sua posição em termo de custo, para concorrer diretamente com a China.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AHORLU, Mette. Vendor Survey: Europe-Based Service Providers Sharpen Their Offshore Strategies. IDC. 2006.

LOGICA. Outsourcing. Consultado em 26/05/2009. Disponível em:

MASTER, Redação TI. Offshore de TI: O Brasil está na competição. Publicado em 17/04/2009. Acesso em 25/05/2009. Disponível em:

NAVARRO, Mirelli S., ALESSI, Haroldo C. A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA DO PROFISSIONAL DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO. Consultado em 25/05/2009. Disponível em: < www.mirelli.info/arquivos/artigo.pdf>

PERES, Mauro.O Mercado de Serviços Offshore Brasileiro em 2008. IDC Brasil. 2009.

POWER, Mark J. The Outsourcing Handbook: How to implement a successful outsourcing process. Kogan Page. 2006.

SILVÉRIO, Kátia M.; Offshore Outsourcing. Publicado em 22/03/2009. Consultado em 25/05/2009. Disponível em:

STEFANINI, Marco. Brasil o país da vez. Publicado em 03/2009. Consultado em: 29/05/2009. Disponível em: http://www.fecomercio.com.br/arquivo/9c9f5d54ab_2_-_stefanini.ppt

VERGARA, Leandro. Outsourcing: Parceiro de negócio ou intruso?. Publicado em 08/03/2005. Consultado em 26/05/2006. Disponível em:

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